Escrito por: Alex Torrealba
Uma corrente do bem reparou uma injustiça
A criação de uma vaquinha para ajudar um enfermeiro que teve seu carro destruído por taxistas, os quais achavam que ele era Uber

O Brasil está vivendo um momento bastante incomum. Estamos passando por problemas na área da economia e política, o que tem aflorado uma radicalização jamais antes vista, na sociedade. Este reflexo dos nervos a flor da pele acabam se estendendo ao nosso próprio dia-a-dia, podendo nos afetar diretamente.

O aplicativo Uber veio ao Brasil propondo inovar o transporte público. Os governos, sempre lentos para lidar com estas mudanças, não conseguiram acompanhar e discutir os impactos das mesmas. E os taxistas, talvez os mais afetados pela operação do aplicativo, se organizaram para defender a sua visão.

No dia 10 de maio de 2016, o governo de São Paulo decidiu regulamentar aplicativos de carona, entre eles o Uber. Isso gerou uma onda de protestos dos taxistas que foram as ruas, bloquearam o trânsito e protestaram de acordo com seus interesses.

Naquela noite, Jorge Carlos Ferreira Santos, um enfermeiro de 44 anos, estava indo para cumprir seu turno de 12 horas de trabalho. E se viu preso no trânsito caótico que o protesto formou. Seu carro, um Corsa preto, que foi adquirido com muito esforço (em 48 parcelas para caber no orçamento do seu salário) acabou sendo confundido por taxistas como um carro do Uber.

Neste momento, se dava o início do terror de Jorge. Seu carro foi cercado pelos taxistas que começaram a depredá-lo. Desesperado, tentou mostrar aos protestantes o seu jaleco, para argumentar que era enfermeiro e não motorista de Uber, mas foi em vão. Preso no olho do furacão, Jorge faz o possível para avançar entre a multidão e fugir do local, temendo inclusive pela sua vida. Um susto terrível e que será marcante na vida dele.

O caso vira notícia nacional. Jornais, revistas, portais e televisão entrevistam Jorge, que relata os momentos de terror que viveu. Desesperado, ele afirma que não teria dinheiro para restaurar o seu carro e que o seguro estava atrasado e, portanto, dificilmente cobriria os danos. Jorge se viu vítima da radicalização do país. Vítima de uma injustiça sem tamanho, que poderia ter acontecido com qualquer um de nós.

Solidariedade

André Shizuo Murasse, empresário de 32 anos, assistiu ao noticiário e ao depoimento emocionado de Jorge e se sensibilizou com a história. Mesmo sem conhecê-lo, decidiu que tentaria ajudá-lo. Encorajado por comentários nas redes sociais de pessoas que tinham vontade de ajudar Jorge Santos a cobrir os prejuízos causados em seu carro, André optou pelo Vakinha, pois, segundo ele “a empresa tem tempo de estrada, o que indica grande solidez e seriedade, além do alcance nacional”.

A vaquinha “Reparando Injustiças” foi criada no dia 11 de maio, um dia após o ocorrido. André divulgou a vaquinha no seu mural do Facebook, e em alguns grupos e páginas que discutiam o ocorrido. Procurou deixar claro que não estava tomando partidos ou ideologias, apenas querendo ajudar alguém que passava por uma situação terrível.

E foi então que uma corrente do bem se formou. André pediu ajuda a alguns amigos e, com isso, Inúmeras pessoas foram impactadas pela sua mensagem. Diversas pessoas se interessaram pela causa. A grande maioria, que não sabia como poderia ajudar, enxergou nesta vaquinha uma forma de centralizar as doações, de forma mais rápida e organizada. Contando com a própria estrutura do Vakinha, que permite pagamentos via cartão de crédito e boleto bancário, André viu a sua iniciativa se disseminar de forma incrível.

Incertezas, e suas soluções

O sucesso da vaquinha acabou trazendo questionamentos por parte das pessoas interessadas em ajudar. Pessoas iam nas postagens de André questionando se aquela vaquinha era mesmo real, se o dinheiro seria doado ao destinatário (Jorge).

O Vakinha começou a receber inúmeras mensagens com a mesma dúvida. “Quem é este André? Eles se conhecem? Como saberemos se o Jorge receberá o dinheiro?” Questionavam os interessados em colaborar.

Neste momento, nossa equipe tratou de contatar o André. Após um bate papo, onde verificamos algumas informações, recomendamos que ele detalhasse um pouco mais a sua vaquinha, como forma de demonstrar toda seriedade que ele gostaria de dar a este caso. André, sendo uma pessoa de bem, achou a ideia fantástica e naquela mesma tarde, começou a responder todos os comentários em sua vaquinha, além de atualizar e detalhar um pouco mais as suas intenções.

Neste período, nossa equipe contatou o Jorge para verificar se ele estava ciente da vaquinha e explicar o processo que se sucederia após o encerramento. Em uma conversa com nossa equipe, ele se mostrou ciente de todo o processo e muito orgulhoso (e emocionado) com a repercussão do fato.

Esta atitude reduziu a quase zero o número de questionamentos, dando uma credibilidade ainda maior para a sua ação e tornando o processo de doações mais rápido e disseminado.

Corrente do bem

Em questão de horas, mais da metade da meta de R$ 10.000,00 fora atingida. E as doações não paravam. A vaquinha “viralizou” nas redes sociais, primeiro com os amigos de André, depois com os amigos dos amigos e por fim, com pessoas que André nem conhecia. A corrente do bem estava mais forte do que nunca.

Um dia após a sua criação, a vaquinha já havia quase dobrado a meta, resultando finalmente em mais de R$ 17.000. André deixou claro que pretende que o dinheiro arrecadado sequer passe por ele, sendo destinado diretamente ao Jorge.

Jorge e André, antes desconhecidos, acabaram tendo seus caminhos cruzados por uma casualidade. E a vontade de fazer o bem foi o que os aproximou. A nossa equipe, Jorge relatou com emoção o fato de que adoraria ter a oportunidade de agradecer a cada um dos 411 colaboradores. Se dispôs a tentar gravar um vídeo com o André, para tentar agradecer a todos que de alguma forma colaboraram com a campanha.

Nós, do Vakinha, só podemos desejar alegrias a estas duas pessoas que tiveram seus caminhos cruzados pela solidariedade e pela vontade de fazer o bem. E não temos como não nos sentir orgulhosos de fazer parte disto.

E você, já havia imaginado como pode ser fácil organizar uma vaquinha para ajudar alguém?

 

O que você pode aprender com este caso?

Esse caso de sucesso nos apresenta uma série de lições importantíssimas que você pode tentar realizar na sua vaquinha, para arrecadar dinheiro para sua causa.

  1. Divulgue sua vaquinha nos lugares certos. O André, ao criar a sua vaquinha, não divulgou apenas entre os seus amigos. Ele procurou páginas e grupos no Facebook que estavam discutindo o caso e que demonstravam interesse no assunto. Essas pessoas ajudaram a viralizar a vaquinha.
  2. Tudo começa com a sua rede de amigos. As primeiras pessoas que ajudaram o André a divulgar a vaquinha foram os seus próprios amigos. Pense em como essa rede pode crescer rapidamente: amigos, amigos dos amigos, e assim por diante.
  3. Invista tempo detalhando a sua vaquinha. Muitas pessoas estavam com medo de doar para a vaquinha do André, pois haviam poucas informações descritas. Após detalhar (e atualizar!) a vaquinha, André demonstrou credibilidade e as doações se tornaram mais frequentes.
  4. Interaja com seu público. André fez questão de responder comentários nas redes sociais e na própria vaquinha, como forma de demonstrar que estava engajado e concentrado nos resultados que desejava atingir.

Seu projeto pessoal de vida. Muitas pessoas criam vaquinhas e não demonstram que atingir aquela meta é um objetivo pessoal, de vida. Se você mesmo não estiver dedicado, ninguém mais estará. E as pessoas notam isto.

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